quarta-feira, 17 de setembro de 2014

02 - AS LEIS DO CORAÇÃO



De todos os olhos que se voltaram para mim, os que melhor recordo são os teus. Olhos mais brilhantes do que a lua, e bem mais misteriosos. Dava tudo para poder voltar a ver-te, ser capaz de escutar e interpretar os teus silêncios. Fiquei dias inteiros à tua espera, dias de sol e temporal. Esperei tanto por ti. Preferia ter conseguido resistir, se pudesse, mas os teus silêncios movimentavam-se tão iguais aos meus. O amor não obedece a qualquer regra, por isso achei por bem seguir o conselho ditado pelo meu coração. Cedi à tentação e esperei, mesmo sabendo que seria quase impossível encontrar-te de novo por ali. Esperei semanas inteiras, ao frio e à chuva, semanas inteiras sem vislumbrar o azul do céu. Não havia outra solução pois era só em ti que eu pensava.
Um dia um velho escritor contou-me que, tal como o amor, as palavras doem ao nascer. Esses corpos de pedra, mal brotam, unem-se uns aos outros criando centenas de milhares de estátuas com pesos, tamanhos e formas tão distintas como diferentes são as leis do coração. Quando respiro, cada sopro sai com o mesmo peso dessas palavras de pedra.
Segundo a história que me foi contada por esse velho escritor, as estátuas foram submersas num lago tão vasto como o maior dos oceanos do mundo. O lago foi criado de propósito para as acolher, e é lá que elas estão guardadas para que nunca se venham a perder. Apenas os que padecem dos males causados pela doença do amor podem encontrar os locais onde elas se encontram.

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