De todos os olhos que se voltaram para mim, os que
melhor recordo são os teus. Olhos mais brilhantes do que a lua, e bem mais
misteriosos. Dava tudo para poder voltar a ver-te, ser capaz de escutar e
interpretar os teus silêncios. Fiquei dias inteiros à tua espera, dias de sol e
temporal. Esperei tanto por ti. Preferia ter conseguido resistir, se pudesse,
mas os teus silêncios movimentavam-se tão iguais aos meus. O amor não obedece a
qualquer regra, por isso achei por bem seguir o conselho ditado pelo meu
coração. Cedi à tentação e esperei, mesmo sabendo que seria quase impossível
encontrar-te de novo por ali. Esperei semanas inteiras, ao frio e à chuva,
semanas inteiras sem vislumbrar o azul do céu. Não havia outra solução pois era
só em ti que eu pensava.
Um dia um velho escritor contou-me que, tal como o
amor, as palavras doem ao nascer. Esses corpos de pedra, mal brotam, unem-se
uns aos outros criando centenas de milhares de estátuas com pesos, tamanhos e
formas tão distintas como diferentes são as leis do coração. Quando respiro,
cada sopro sai com o mesmo peso dessas palavras de pedra.
Segundo a história que me foi contada por esse velho
escritor, as estátuas foram submersas num lago tão vasto como o maior dos
oceanos do mundo. O lago foi criado de propósito para as acolher, e é lá que elas
estão guardadas para que nunca se venham a perder. Apenas os que padecem dos
males causados pela doença do amor podem encontrar os locais onde elas se
encontram.
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