sexta-feira, 12 de setembro de 2014

00 - Preâmbulo



Onde estou não há silêncio o que torna difícil o início da jornada
No princípio é sempre assim, está tudo escondido, as personagens dormem, os espaços não existem, nem as palavras.
Começar é deixar de ter receio.
Começar é abraçar a mais escura das noites de lua nova, a mais fria e húmida e silenciosa.
No fundo de um grande lago que o satélite gosta de beijar, encontra-se mais uma história. Nessas águas tranquilas descansam alguns batéis como aves adormecidas, de mastros despidos. São cerca de uma vintena de braços fortes de madeira escura que se erguem ao céu.
Tenho de mergulhar o quanto antes, logo que consiga encontrar o silêncio.
Tenho de mergulhar depressa para resgatar ao lago mais esta história que tenho para contar.
  
Os marinheiros sabem melhor do que ninguém qual é o verdadeiro peso da solidão, e de como ela se transforma naquela coisa insuportável que se entranha nos corpos e na alma e os transforma em estátuas.
Assim se esculpem os novos habitantes do fundo do mar, afastados uns dos outros por ordens expressas da dona morte.
Abandonados em isolamento, permanecem escondidos no mais profundo dos silêncios, numa escuridão quase total.
Descansam em águas tão profundas e geladas que nem o tempo por lá se atreve a passear.
 

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