O mar chama por mim. Tenho de resistir ao apelo do
oceano que grita o meu nome em voz alta. O comandante pediu-me para tentar
manter o navio estável custasse o que custasse. Eu faço-o com firmeza e
determinação, não posso abandonar o leme pois colocaria em perigo toda a
empreitada se cedesse à tentação e abandonasse o posto.
Centenas de estátuas emergem e colocam-se paralelas
às naus, com os braços erguidos, a segurar fachos luminosos. Os ventos amainam,
as fortes chuvadas perdem intensidade, as ondas gigantescas ficam mais serenas
e no céu conseguimos, finalmente, espreitar algum azul pelos intervalos das
nuvens escuras. As figuras de pedra formam um corredor por onde agora
navegamos. O mar insiste, grita de novo o meu nome em voz alta e torna-se cada
vez mais difícil resistir à chamada.
As águas do lago estão mais tranquilas, as estátuas
sorriem à nossa passagem mas os meus companheiros de viagem estão impassíveis a
tudo o que se passa. Estarei a ficar louco? Serei o único capaz de vislumbrar o
espantoso acontecimento? As portas do mar estão abertas à minha espera enquanto
estátuas vermelhas iluminam o caminho. As naus são invadidas por um silêncio
estranho, uma quietude nada condizente com tamanha magnificência. Os
companheiros foram derrotados pelo cansaço, mas não pelo medo. Ninguém consegue
festejar o regresso da bonança pois os corpos e a cabeça não o permitem. Poucos
são aqueles de nós que se mantêm de pé, alguns rezam pelas vidas que a tormenta
ceifou e os outros estão deitados, de olhos cerrados, a celebrar a simples
glória de estarmos vivos.
As estátuas são magníficas, olham-nos altivas,
poderosas, e mantêm iluminadas as chamas à nossa passagem.
- Ainda há esperança, marinheiro! Repara como o
oceano preferiu regressar ao que já foi. Agora vou calar-me, pois é em silêncio
que esta vitória deve ser festejada.
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