sábado, 8 de novembro de 2014

11 - AS PORTAS DO MAR


O mar chama por mim. Tenho de resistir ao apelo do oceano que grita o meu nome em voz alta. O comandante pediu-me para tentar manter o navio estável custasse o que custasse. Eu faço-o com firmeza e determinação, não posso abandonar o leme pois colocaria em perigo toda a empreitada se cedesse à tentação e abandonasse o posto.
Centenas de estátuas emergem e colocam-se paralelas às naus, com os braços erguidos, a segurar fachos luminosos. Os ventos amainam, as fortes chuvadas perdem intensidade, as ondas gigantescas ficam mais serenas e no céu conseguimos, finalmente, espreitar algum azul pelos intervalos das nuvens escuras. As figuras de pedra formam um corredor por onde agora navegamos. O mar insiste, grita de novo o meu nome em voz alta e torna-se cada vez mais difícil resistir à chamada.
As águas do lago estão mais tranquilas, as estátuas sorriem à nossa passagem mas os meus companheiros de viagem estão impassíveis a tudo o que se passa. Estarei a ficar louco? Serei o único capaz de vislumbrar o espantoso acontecimento? As portas do mar estão abertas à minha espera enquanto estátuas vermelhas iluminam o caminho. As naus são invadidas por um silêncio estranho, uma quietude nada condizente com tamanha magnificência. Os companheiros foram derrotados pelo cansaço, mas não pelo medo. Ninguém consegue festejar o regresso da bonança pois os corpos e a cabeça não o permitem. Poucos são aqueles de nós que se mantêm de pé, alguns rezam pelas vidas que a tormenta ceifou e os outros estão deitados, de olhos cerrados, a celebrar a simples glória de estarmos vivos.
As estátuas são magníficas, olham-nos altivas, poderosas, e mantêm iluminadas as chamas à nossa passagem.
- Ainda há esperança, marinheiro! Repara como o oceano preferiu regressar ao que já foi. Agora vou calar-me, pois é em silêncio que esta vitória deve ser festejada.

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