sábado, 11 de abril de 2015

74 - A FÚRIA DE POSEIDON


Álvaro tremeu quando a água mudou de tom.
O deus dos mares faz-lhe medo, pois ele receia que o possa ocultar, para sempre, no interior profundo do leito do lago oceano de onde não conseguirá escapar.
Poseidon transforma todos os respeitos em temores, e todos os azuis ficam vermelhos. Neste dia improvável em que o homem foi autorizado pela rainha a visitar a cidade, para assim ser criada uma lenda, ele finge não o ver. A cidade não é um lugar de visitas, desde o início dos tempos que assim acontece, pois ninguém teve a ousadia ou a coragem de a alcançar. A divindade olhou para Mari, irada, e ela de imediato lhe compreendeu os pensamentos. Sem dizerem uma única palavra, encetaram um diálogo feroz através de gestos e olhares muito expressivos.
Um branco intenso e luminoso quase cega o marinheiro, e um calor excessivo aquece as águas afetando-lhe a respiração. Morrerá afogado se não conseguir recuperar a tranquilidade necessária para controlar os pulmões. Álvaro está visivelmente afetado com a aproximação de Poseidon, e Sedna interfere, colocando-se à sua frente até que as testas dos dois deuses acabam por se tocar. O confronto parece inevitável.
- FOGE! – grita Anfitrite, apontando para vulcões subaquáticos que surgem de todos os lados, ameaçadores.
O marinheiro afasta-se para onde o brilho e o calor são menos intensos. Consegue acalmar-se o suficiente para dominar o processo de respiração, que ficou bem mais doloroso. O peito pesa-lhe muito, e a cabeça dói-lhe tanto que deve estar prestes a explodir. Nadar é uma tarefa complicada, e ele fecha os olhos para melhor se concentrar. Vê-se a nadar como se fosse manta, pois essa forma perfeita ajuda-o a avançar.
- Se fechares os olhos e resistires à tentação de os abrires, eu ajudar-te-ei a lutar contra as tempestades – exclama Cecília, acabada de surgir do meio da escuridão - A minha alma de manta é simples, Álvaro, e a minha forma permitirá uma maior rapidez na tua fuga. Erraremos, os dois, como sombras, no fundo do lago. Iemanjá encarregar-se-á de acalmar a fúria de Poseidon. Aqui em baixo não é o mundo dos homens, e tudo é bem mais difícil de compreender. Vais voltar a sentir as pernas pesadas, por isso tens de ser rápido a agarrar-me, mas tenta fazê-lo mantendo sempre os teus olhos fechados.

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