quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

28 - UM LAGO PINTADO A VERMELHO

Imagem intercalada 1

Subitamente, e sem que nenhum dos dois se aperceba, um tubarão-tigre surge do nada, por detrás da grande esfera, e com uma rapidez impressionante ataca Álvaro na coxa direita mordendo-a logo abaixo da zona da anca. A ferida é profunda e provoca uma dor intensa que lhe percorre o corpo. Sangue, o que mais o preocupa é ver tanto sangue a sair-lhe do corpo, e isso tornará mais fácil a tarefa de outros predadores que o desejem encontrar. O tubarão furtivo foi veloz na investida e é igualmente ligeiro a afastar-se para longe dali. O risco aumenta a cada gota de sangue que lhe vai saindo da ferida pois elas atraem perigosos animais marinhos. O animal solitário nadava em busca de comida e resolveu atacar porque estava esfomeado. Talvez volte a atacar, ou outros como ele que vagueiem aqui por perto. A rapariga tinha dado o alerta, avisara-o dos muitos perigos que aqui poderia encontrar.
O sangue mistura-se com a água do lago pintando-a de um vermelho muito intenso, e a rapariga estátua exclama, aflita:
- O tubarão que te atacou fugiu quase tão depressa como apareceu, e deixou-te a perna muito maltratada! Estás ferido! Não faltará muito para que outros tubarões sejam atraídos pelo teu sangue. TENS DE ENTRAR NA BOLA! Tu, tens de conseguir aceder ao interior desta esfera que nos transporta.
Álvaro considera a ideia um tanto ou quanto absurda, mas se já tantas coisas notáveis e igualmente ilógicas se passaram desde o início da jornada, quem sabe se isto também não lhe poderá vir a acontecer. Por exemplo, foi estranho o tubarão ter atacado uma única vez. Isso não é normal para um bicho esfomeado.
A luz que chega da superfície assinala o fim de mais um dia, logo agora que a viagem se complicou. A rapariga estátua gostaria de o ajudar a encontrar uma entrada nesta esfera negra onde viajam, mas mal se consegue mexer. Não sabe quanto tempo mais o marinheiro conseguirá aguentar sem desfalecer.
A esfera rola devagar ao longo de uma faixa acidentada do terreno. O fundo do lago escureceu, de novo, e a bola detém-se para repousar. Álvaro está à mercê do grande lago que o convocou.
- OLHA! Marinheiro, OLHA! ALI, ali em baixo! É incrível! – brada a jovem numa grande agitação. – Aquelas três estátuas mexeram-se e estão a acenar-nos. Afastaram-se da esfera à qual pertencem para abrir uma fresta por onde poderás entrar. VAI! Nada depressa, aproveita a oportunidade para te esgueirares até ao interior desta gigantesca escultura rolante. Eu fico bem, não te preocupes. Salva-te se ainda desejas salvar os teus camaradas. Sê rápido a descer pois os tubarões devem estar quase a alcançar-nos. Depois será tarde demais.
Álvaro não hesita e apressa-se a descer pela parede irregular da grande bola, apesar de sentir a perna cada vez mais dormente. Continua a sangrar, tem a boca seca e a visão começa a ficar turva e desfocada. O marinheiro tenta afastar os maus pensamentos ao longo da descida numa altura em que alguns tubarões-tigre alcançam o planeta e o começam a rondar. Álvaro perdeu muito sangue e os animais vieram à sua procura. Era inevitável. Os peixes nadam agora ao redor da enorme esfera negra e preparam-se para atacar. As estátuas que ainda há pouco lhe acenavam esticam-se em sua direção, puxam-no, e empurram-no para dentro da imensa estrutura redonda. As três figuras de pedra encostam-se rapidamente ao planeta que assim se fecha para o salvar.


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