Aqui se guardam os segredos de cada uma das estátuas
que compõe a enorme esfera. Os seus olhos de pedra reparam num vale e em dois montes
que lá fora aguardam pelo marinheiro, e a paisagem ilumina-se como num sonho.
Álvaro ansiava por este dia. Alguém lhe contou,
quando era muito jovem, que cidades maravilhosas tinham sido construídas no fundo
de um grande lago. Só podia ter sido alguém que o sabia, alguém que por aqui também
tenha passeado. Ou talvez não. Talvez esse contador de histórias o tenha seduzido
com uma simples lenda e não fizesse ideia nenhuma do que, na realidade, acontece
aqui em baixo.
Um caminho iluminado e inexplorado estende-se desde o
globo até aos montes distantes. Para o marinheiro, tudo devia ter terminado, mas
ali se encontra uma paisagem que não foi criada pelo mundo que tudo molda.
- Estavas quase a desistir. Eu gosto de conversar contigo,
as nossas conversas fazem-me acreditar que ainda somos. Se voltasses a ser estátua,
quem conversaria comigo? Agora espero não demorar tanto tempo a ali chegar. Dá-me
a tua mão, sozinho não serei capaz de te ajudar. Falta pouco para te alcançar, anda,
ajuda-me a fazer desaparecer este intervalo que ainda nos separa.
A jovem deixou de estar ajustada à forma esférica do
planeta. Ainda lhe pesam as pálpebras mas o seu corpo morno já se descolou da restantes
estátuas de pedra fria.
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